A inteligência artificial (IA) está transformando o mercado de trabalho, gerando debates intensos sobre o impacto que pode ter nos empregos e nas atividades empresariais. Pesquisas e estudos projetam diferentes cenários, desde riscos de substituição em larga escala de postos de trabalho até previsões otimistas de criação de novas ocupações. Embora as opiniões variem, há um consenso emergente: a IA mudará a forma como trabalhamos, demandando requalificação e adaptação constante dos profissionais.
IA e automação: impacto nos setores e nos postos de trabalho
A IA, em conjunto com a automação e a robótica, tem potencial para transformar profundamente diversas indústrias, especialmente em setores como manufatura, telecomunicações, saúde e transportes.
Nos últimos anos, por exemplo, o número de robôs industriais triplicou, segundo dados da Federação Internacional de Robótica. É que esses robôs, muitas vezes dotados de inteligência artificial, estão cada vez mais presentes nas linhas de montagem, reduzindo a necessidade de atividades manuais repetitivas.
Um relatório da consultoria McKinsey aponta também que, até 2030, a automação pode causar uma reestruturação de até 275 milhões de empregos globalmente, mas com um saldo final equilibrado entre perdas e novos postos.
Como os trabalhadores se sentem com isso? Pesquisa recente realizada pela Jitterbit, em parceria com a Censuswide, com mais de mil trabalhadores dos Estados Unidos e do Reino Unido, mostra que 61% dos profissionais veem a IA como uma oportunidade para aprimorar suas habilidades, enquanto 96% acreditam que a tecnologia pode melhorar suas funções no trabalho, eliminando tarefas repetitivas e liberando tempo para atividades estratégicas e criativas.
Adicionalmente, o estudo revelou que 61% dos trabalhadores não demonstram preocupação com a IA substituir funções humanas, evidenciando a percepção de que a tecnologia deve atuar como uma ferramenta complementar. Entre os principais benefícios esperados, 46% destacam a redução do tempo gasto na coleta de informações de sistemas e aplicativos, e 33% esperam que a IA aumente o tempo dedicado a atividades reflexivas e de maior valor.
Adoção de IA e resultados econômicos nas empresas
A IA não só transforma o trabalho, mas também oferece benefícios econômicos às empresas. Um levantamento da McKinsey revelou que 63% das empresas relataram ganhos econômicos com a implementação de IA, especialmente nas áreas de marketing, vendas e desenvolvimento de produto. A redução de custos foi mais expressiva na manufatura e nas operações de recursos humanos.
Na prática, setores como alta tecnologia, automotivo e telecomunicações estão liderando a adoção dessa tecnologia, enquanto segmentos como transporte e logística têm aumentado o uso de IA para otimizar operações. A fabricante brasileira Gerdau, por exemplo, utiliza IA para monitorar equipamentos em tempo real, prolongando a vida útil dos maquinários em até 20%. Operadoras de telecomunicações também estão adotando agentes virtuais para atendimento ao cliente, substituindo parte do serviço tradicional de call center.
Impactos na América Latina e no Brasil
Na América Latina, a pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Banco Mundial, intitulada A IA Generativa e os empregos na América Latina e no Caribe: a brecha digital é um amortecedor ou um gargalo?, aponta que 37% do trabalho no Brasil pode ser influenciado pela IA, afetando cerca de 37 milhões de pessoas. Apesar desse percentual estar abaixo da média global de 43%, o impacto é significativo.
Desafios e oportunidades para profissionais
O avanço da IA exige uma nova gama de habilidades. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, até 2030, cerca de 54% dos profissionais precisarão desenvolver novas competências, como programação, design e análise de dados, a fim de acompanhar as mudanças tecnológicas.
Os autores Paul Daugherty e James Wilson, no livro Humano + Máquina, destacam a importância das habilidades híbridas, que combinam o pensamento humano com o uso de IA. Profissionais serão desafiados a supervisionar, aprimorar e tomar decisões baseadas nas informações fornecidas pela tecnologia.
Impactos no futuro do trabalho e na sociedade
Enquanto a IA transforma funções e desafia os limites da automação, também cria oportunidades para trabalhos mais criativos e estratégicos. Para que a sociedade tire proveito dessas mudanças, é essencial investir em capacitação e políticas públicas que assegurem a transição inclusiva para o futuro digital.
Assim, o impacto da IA no mercado de trabalho é um cenário misto de desafios e oportunidades. A tecnologia permitirá ganhos significativos em eficiência e redução de custos, mas exigirá transformação cultural e de gestão para que profissionais prosperem em um ambiente cada vez mais digitalizado.
Exemplos de habilidades que não podem ser facilmente substituídas
Empatia e inteligência emocional: empregos que requerem um alto nível de empatia, como psicologia, assistência social e enfermagem, dependem profundamente do entendimento e da reação às emoções humanas. A IA ainda está longe de replicar a complexidade da empatia humana em suas interações.
Criatividade e inovação: enquanto a IA pode gerar música, arte e até certo conteúdo escrito, a criatividade humana possui profundidade, emoção e contexto cultural que máquinas ainda não conseguem capturar completamente. Profissões criativas, como escritores, artistas e designers, se beneficiam da capacidade humana de pensar fora dos padrões e conceber ideias verdadeiramente inovadoras.
Habilidades estratégicas e de tomada de decisão complexa: líderes empresariais, gestores e empreendedores exercem julgamentos baseados em uma combinação de dados, intuição e experiência prática. A capacidade de navegar na incerteza, pesar múltiplas variáveis e tomar decisões que afetam o futuro das organizações são habilidades intrinsecamente humanas.
Trabalho manual especializado e artesanato: profissões que exigem um alto grau de habilidade manual – como carpintaria, joalheria e restauração de arte –dependem da destreza, sensibilidade e experiência humanas, o que é um desafio para automatizar.
Para prosperar nesse contexto, as empresas precisarão investir não só em tecnologia, mas também em treinamento e na capacitação de seus colaboradores, garantindo que estejam preparados para aproveitar o potencial transformador da inteligência artificial de maneira ética e sustentável.
